Liberdade e o livre Mercado no trabalho de comportamento canino.

A palavra liberdade é libertadora. Todos clamam por essa sensação em diversos cenários da vida em sociedade. Liberdade de ir e vir, liberdade de expressão, liberdade de fazer escolhas e liberdade de ser quem você é. O conceito é inegavelmente o melhor. 

Agora vamos falar de liberdade no livre mercado. É a possibilidade de comprar, vender e consumir produtos e serviços baseado em um acordo entre duas partes, quem compra e quem vende, dentro dos termos estabelecidos por ambas as partes. Milhares de nações lutaram por isso ao longo dos séculos, e hoje, temos esse privilégio, especialmente dentro do trabalho de comportamento canino e todas as outras categorias que envolvem serviços para cães. Basicamente a arena está aberta e as partes são livres para escolher quais serviços querem contratar e de quais profissionais. 

O preço da liberdade.

Viver esse privilégio tem um preço, como todas as vantagens da vida tem. Como já dizia a frase: “cada escolha é uma renúncia”.  Para vivermos e sustentarmos uma sociedade livre, precisamos aprender a assumir as responsabilidades que vem para cada indivíduo. Elas são:

  • Fazer suas escolhas baseadas em pesquisa detalhada e conclusões alcançadas individualmente por experiência e práticas.

  • Assumir as consequências das suas escolhas sem projetar culpa ou responsabilidade em terceiros.

  • Ser transparente consigo mesmo, e com os outros, sobre sua opinião e posicionamento.

  • Identificar as características e posicionamento de cada indivíduo, aprender a discordar, não se calando para agradar o outro, mas expressando sua opinião diferente baseada em argumentos em experiências individuais.

  • Entender que respeito não significa apatia, e assertividade não significa arrogância.

  • Aprender a lidar com críticas e discordâncias vendo essas situações como possibilidade de aprendizado.

O preço do livre mercado. 

O livre mercado é aquele que não é regulado por nenhuma instituição maior, apenas pelas partes envolvidas. É como um relacionamento contratual entre duas pessoas que optam por trabalhar juntas dentro que definições criadas por elas mesmas. Para um livre mercado ter sucesso a responsabilidade e a ética tem um papel primordial, por ambas as partes. Vamos ver abaixo o que é necessário para saber navegar nessa arena com sucesso;

  • Se você é consumidor, é sua responsabilidade conhecer e entender com clareza o produto ou serviço oferecido. Você deve basear sua decisão de fazer negócio com a outra parte, apenas se a proposta está clara, em argumentos, práticas, exercícios e resultados, e você entende o processo e o produto final como o que você para você.

  • Se você é o prestador de serviços é sua responsabilidade ser transparente com sua proposta, mostrar seu processo de trabalho, com argumentos, práticas, exercícios e resultados, e definir que tipo de cliente é o ideal para você.

  • Se você é consumidor e não cumpre com suas responsabilidades citadas acima, você está sujeito as consequências, que são, entre outras, pagar por um serviço que não te satisfaz, ter uma experiência ruim com o profissional, não obter resultados e/ou acumular frustrações.

  • Se você é o prestador de serviços e não cumpre com suas responsabilidades citadas acima você está sujeito as consequências, que são, entre outras; não ter clientes comprometidos com sua proposta, não ter a receita necessária, não ser valorizado como profissional, não ter a habilidade de entregar o que você vendeu e/ou acumular frustrações.

É facilmente perceptível que a liberdade e o livre mercado tem um preço, que é mais do justo na minha opinião. É quando realmente criamos um mercado sólido, com autonomia total do indivíduo, aonde cada um é responsável por suas escolhas. Nesse formato você assume as suas escolhas e você paga o preço por elas. Nada mais justo. 

O que vem acontecendo recentemente é um debate social, questionando a valia desse formato e propondo uma curva perigosa chamada intervenção do estado. Veja aqui alguns dos argumentos no mercado de comportamento canino e como eles se encaixam no que foi explicado anteriormente; 

  • Proposta de legislação para banir raças de cães específicas – grupos que defendem essa proposta alegam que a culpa dos acidentes, ataques e até fatalidades está apenas na definição de raça do animal, e em mais nenhum outro fator (exclusão de responsabilidade de manuseio, treino, hábitos de convívio e práticas de interação diárias) logo o animal deve ser banido, leia-se destruído.

  • Proposta de legislação para banir equipamentos de treinamento – grupos que defendem essa proposta alegam que uma coleira ou equipamento de treinamento em si, sozinho, como objeto inanimado, é responsável por maus tratos em animais (decisão tomada em nome de outros, ou seja, totalitarismo em nome da segurança), e a sociedade em geral não tem habilidade intelectual, cognitiva ou prática de aprender sobre sua utilização, logo a mesma deve ser banida.

  • Proposta de legislação para “formalizar” os profissionais da área – grupos que defendem essa proposta criticam o formato do livre mercado já que enxergam, em outros profissionais que prestam o mesmo serviço, falhas em suas práticas que atravessam o limite da ética e da segurança, logo, a proposta é limitar a prática do serviços à apenas um grupo seleto que vai operar debaixo da autoridade do estado. Vemos aqui, mais uma vez, a limitação e oposição ao livre mercado em baixo da justificativa do bem maior, a segurança.

Vejam como a falta de responsabilidade, por parte de cada indivíduo, potencializada no seu extremo, pode destruir o formato do livre mercado e acabar com a liberdade de cada um como pessoa, consumidor e prestador de serviços. 

Uma vez que nos rendemos a esse protocolo, entramos na era aonde assumimos que não somos capazes de nos auto regular, de ser responsáveis por nossos próprios atos e decisões, e que os outros membros da sociedade são tão inaptos quando nós. Clamamos então por uma figura de autoridade maior (o estado), que vai passar a tomar todas as decisões por nós, e assim podemos voltar a viver no nosso universo “pacífico” aonde tudo funciona com base em regulamentos que promovem a “coletividade” em nome da harmonia. Todos pensando igual, fazendo igual e vivendo igual. 

O grande problema dessa proposta é simples, você destrói o indivíduo. Vamos ver porque;

  • Não é mais do indivíduo a responsabilidade sob suas escolhas, logo ele não assume as consequências justas, que seriam aplicadas apenas com base em seus atos. As consequências agora são aplicadas pelo estado.

  • Não existe mais liberdade de evolução não tendenciosa, afinal já ficou claro que o indivíduo não tem habilidade para isso, e pode ser perigoso para o coletivo, logo o estado define até aonde e como você pode evoluir dentro da sociedade e do mercado.

  • Não existe mais espaço para o livre debate pois o estado já definiu o que pode ou não ser feito. Qualquer expressão contrária ao estabelecido agora está sujeita ao juízo do estado, que pode, a qualquer momento, revogar a sua capacidade de atuar no mercado como um todo.

  • Não há mais motivação para evolução, criatividade e possibilidades de destaque. Já ficou claro que a sociedade não tem capacidade analítica, logo não há porque criar alternativas que evoquem análise. Basta entregar o básico de fácil digestão.

Há qualquer momento, qualquer indivíduo que mostra qualquer dificuldade em lidar com esse quadro (extrema sensibilidade ou emoção diante de estímulos e situações diversas), já drasticamente comprometido, pode solicitar do estado mais legislações para se proteger da possibilidade de ter que, um dia, assumir a responsabilidade por alguma outra como, como uma crítica ou comentário. Assim, aos poucos, vamos entregando todos os nossos direitos ao estado até perdemos nossa liberdade como um todo. 

Se você chegou até aqui e está confuso sobre como tudo isso afeta seu trabalho ou sua vida com cães, a resposta é simples: você é mais um indivíduo que vive, hoje, num mercado livre dentro de uma sociedade livre. 

Se você está insatisfeito com o cenário atual, faça a sua parte. Assuma a sua responsabilidade enquanto ainda há tempo. Se você quer o melhor para o seu cachorro, vá atrás do melhor material, do melhor serviço e do melhor profissional que você possa encontrar, com objetividade e não emoção.

Se você é profissional da área assuma a sua responsabilidade de prover o melhor serviço, com transparência, com consistência, com conteúdo de valor e ética, sem meias palavras, sem medos de críticas assumindo as consequências. 

Liberdade e o livre mercado são pilares de sociedade que podemos manter se aprendermos que não temos só direitos mas deveres, que nossos atos tem consequências, positivas e negativas e que temos sim, total capacidade de discernir o que é certo e errado. Liberdade requer responsabilidade de cada um como indivíduo. No livre mercado, quem não assume a sua parcela, paga o preço, de uma forma ou de outra. Esse é o mecanismo que faz a sociedade evoluir. Combater a liberdade e o livre mercado é negar responsabilidade como elemento essencial de desenvolvimento pessoal e profissional e aprisionar o indivíduo a inaptidão coletiva. Será mesmo que é isso que nós queremos? Vale a reflexão.